A família Lambic e seus estilos
A família cervejeira mais antiga de todas! Conheça aqui as características da família Lambic e seus estilos.
Quando se fala em cerveja, é comum ouvir termos de classificação como estilos, escolas e famílias cervejeiras. Já abordamos as características de diferentes estilos e escolas em outros artigos, e aqui falaremos sobre uma das três tradicionais famílias cervejeiras: a família Lambic.
Pode-se dizer que a família Lambic é a mais antiga de todas. Isso porque ela engloba as cervejas fermentadas espontaneamente, com a levedura presente no ar, sem a adição controlada de fermento como acontece na produção de Ales e Lagers. Portanto, a primeira cerveja produzida lá na Suméria alguns milênios antes da era Cristã – embora completamente diferente do que hoje reconhecemos como cerveja –, poderia ser categorizada como uma Lambic.
Com o passar dos séculos, no entanto, a humanidade aos poucos foi ganhando crescente domínio sobre a manipulação de leveduras, deixando de lado a imprevisibilidade da fermentação espontânea e favorecendo as leveduras de Ales e Lagers, mais comportadas. Mas em uma região específica esta prática perdurou e continua forte até hoje: Pajottenland, porção sudeste de Flandres, na Bélgica.
É por isso que a família Lambic tem a particularidade de estar ligada a uma única escola, a belga, ao contrário das outras. Porém, da mesma forma que as Ales e Lagers, engloba diferentes estilos que trazem grande variedade de cores, aromas e sabores.
Vamos conhecê-los?
Estilos da família Lambic
Lambic Jovem / Velha
Certamente a versão mais antiga de Lambics, é simplesmente uma Lambic pura, sem ser misturada com outras Lambics (como a Gueuze) e sem adjuntos (como as Fruit Lambics ou Faro).
Existem versões “jovens” (Jonge Lambiek ou Jeune Lambic), sem envelhecimento; e as “velhas” (Oude Lambiek ou Vieux Lambic), envelhecidas. As versões jovens, maturadas por até um ano, são um tanto raras, em geral disponíveis apenas na pressão em estabelecimentos próximos às cervejarias que a produzem. As velhas, geralmente maturadas por 2 a 3 anos em dornas de carvalho, também são raras, porém disponibilizadas em garrafas por alguns produtores como a Cantillon. Até onde sabemos não há nenhuma Lambic “pura” disponível no mercado brasileiro.
Estas Lambics não-blendadas tradicionalmente apresentam coloração amarelo-palha a dourado profundo. Versões jovens tendem a ser turvas, enquanto as velhas são cristalinas. Devido à baixa carbonatação, a formação de espuma é baixa e com pouca persistência. No aroma predominam notas rústicas oriundas da fermentação por Brettanomyces remetendo a couro, feno, estábulo. Na boca, as versões jovens trazem intensa acidez láctica e baixo dulçor. As versões mais velhas tendem a ser mais equilibradas entre acidez e dulçor. Ambas as versões tem paladar seco, baixo corpo, baixa carbonatação e não apresentam amargor do lúpulo.
Exemplo: Cantillon Grand Cru Bruocsella [5,0% / Bruxelas – Bélgica] – um dos poucos exemplares comerciais em garrafa, não se encontra no Brasil.
Gueuze Lambic
As Gueuze Lambics são resultado de um blend cuidadosamente balanceado entre Lambic jovem e velha. Após o blend, a cerveja é engarrafada e refermentada na garrafa, o que se traduz em intensa carbonatação.
A coloração da Gueuze é dourada, podendo apresentar leve turbidez devido aos sedimentos no fundo da garrafa, com grande formação de espuma fina e cremosa. Os aromas seguem a mesma linha que as Lambics descritas acima, com notas rústicas remetendo a feno, couro, estábulo, complementados por notas cítricas como de limão. Na boca tem baixo dulçor, nenhum amargor, acidez presente e equilibrada. A alta carbonatação, baixo corpo e paladar seco, aliados à saborosa acidez, resultam em uma cerveja bastante agradável e refrescante.
Exemplo: Boon Gueuze Mariage Parfait [8,0% / Lembeek – Bélgica]
Fruit Lambic
Fruit Lambic é uma categoria geral para qualquer tipo de Lambic que conta com adição de frutas. As mais comuns são a Kriek, com adição de cerejas, e a Framboise, com adição de framboesas. Mas existem versões das mais diversas: com pêssego, ameixas, cassis e o que mais a criatividade dos cervejeiros belgas permitir.
Quase sempre nestas cervejas acaba predominando o perfil de aromas e gostos das próprias frutas, mas o baixo corpo e perfil ácido característico da família Lambic deve estar presente.
As versões tradicionais levam as frutas in natura em suas receitas, o que traz um perfil sensorial mais natural e equilibrado. Já as versões mais modernas ou industrializadas podem ser produzidas com extratos e adoçantes, resultando em um perfil mais artificial.
Exemplo: Kriek Boon [4,0% / Lembeek – Bélgica]
Faro
Historicamente o estilo Faro é uma cerveja de baixo teor alcoólico produzida a partir de um blend de Lambic e Bière de Mars*, com adição de candy sugar, açúcar mascavo ou melaço de cana. Este estilo foi muito popular na Bélgica no século XIX, porém quase entrou em extinção. As poucas Faros produzidas atualmente não são mais um blend de diferentes cervejas, mas sim apenas Lambic jovem com adição de açúcar.
A Faro Lambic é uma cerveja de cor âmbar, com boa formação de espuma. Os aromas rústicos característicos das Lambics estão presentes, acompanhados de notas adocicadas remetendo a caramelo. Na boca traz equilíbrio entre dulçor e acidez, com boa carbonatação e retrogosto suave.
* Bière de Mars é um estilo histórico de cerveja produzida para consumo dos camponeses durante a primavera (daí o nome “Mars”, que significa “Março”), de baixo teor alcoólico e perfil levemente maltado. É similar às Bière de Garde e Saison.
Exemplo: Lindemans Faro [4,7% / Vlezenbeek – Bélgica]
Aqui você conheceu as principais variações desta peculiar família cervejeira. As cervejas Lambic dividem opiniões: alguns amam, outros odeiam, certamente não são para qualquer um. Mas quem quer conhecer mais sobre cerveja precisa provar estas deliciosas cervejas e assim, quem sabe, encontrar um novo estilo favorito.
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