Santos relacionados a cerveja
Cerveja e religião sempre andaram juntas. Sim, é isso mesmo!
Os sumérios foram uma das primeiras civilizações humanas, e não por coincidência, a primeira a produzir cerveja há uns 8.000 anos atrás onde hoje fica o Sul do Iraque e Kuwait. Já nessa época o precioso líquido era tão importante que esse pessoal tinha uma deusa da cerveja, Ninkasi.
Algum (bom) tempo depois, no Egito, o Faraó – meio rei, meio deus – Ramsés III ficou conhecido como o faraó-cervejeiro, após doar aos sacerdotes do Templo de Amon o equivalente a um milhão de Litros de cerveja.
Os romanos e gregos aprenderam a fazer cerveja com os egípcios, e a bebida logo caiu no gosto do povo, sendo considerada bebida do dia-a-dia. Eles também tinham uma deidade associada à bebida, que deu o nome à palavra cerveja: Ceres. Ceres era a deusa da agricultura e, por extensão, dos grãos. Ou seja, do pão e da cerveja. Ceres visia, termo que originou a palavra cerveja, significa “Aos olhos de Ceres”.
Já na era cristã, as tribos bárbaras dos celtas e povos germânicos eram os maiores produtores e consumidores de cerveja, utilizando-a como oferenda aos deuses (olha eles de novo!) e oferecida como recompensa aos herois, além de regar profusamente seus banquetes e cerimônias.
Chegando à Idade Média, a produção de cerveja era uma atividade doméstica, geralmente de responsabilidade das esposas, principalmente pelo fato da bebida fazer parte da dieta diária das famílias devido a seu valor nutricional semelhante ao do pão (vai um pão líquido aí?), além de o processo de produção da cerveja transformar a água impura em inofensiva à saúde. Não que alguém soubesse disso, pois os microorganismos só foram descobertos séculos depois. Inclusive, pelo mesmo motivo, a produção de cerveja era associada aos deuses! Afinal de contas, de que outra maneira aquele líquido doce se transformava em uma bebida gaseificada e alcoólica? Só podia ser por bênção divina, oras!
Bom, como a cerveja era uma necessidade nutricional, buscaram-se maneiras de aumentar a sua produção. Assim começou a produção de cerveja nos mosteiros, e desde então a história da cerveja e a história da Igreja Católica andam de mãos dadas. Era a Igreja que detentia os direitos da escrita e dos estudos, portanto as receitas e descrição dos processos ficavam por conta dos monges.
E ao desenrolar disso tudo, não à toa existem tantos santos relacionados a cerveja. Vamos conhecer alguns?
Santos relacionados a cerveja

São Columbano (540 – 615)
Padre de origem irlandesa que pregou na França, Itália, e nos Alpes. Teve fundamental importância como disseminador do Cristianismo na época, fundando diversos mosteiros – com amplas áreas para produção de cerveja, é claro. Um de seus milagres: certa vez uma tribo bárbara dos alpes estava preparando um sacrifício com um grande recipiente cheio de cerveja. Ele soprou no recipiente, que se despedaçou, surpreendendo a todos. Columbano então falou que eles estavam desperdiçando cerveja, e que seu Deus amava a cerveja, mas apenas quando era bebida em Seu nome. Assim conseguiu converter muitos membros da tribo. Entre seus muitos outros milagres está a multiplicação de cerveja e pão para a comunidade.
Se estivesse vivo hoje, provavelmente beberia: Guinness Dry Stout, a cerveja típica dos irlandeses.
Data comemorativa: 23 de Novembro.

Santo Arnulfo de Metz (585 – 640)
Patrono dos cervejeiros, foi muito influente em vida como bispo de Metz, e posteriormente canonizado. É comemorado no dia 18/08. Recomedava o consumo de cerveja ao invés de água, que era impura e carregava doenças. Além de multiplicar o sagrado líquido para os fieis, diz-se que ele erradicou uma praga ao abençoar um barril de cerveja com seu crucifixo.
Se estivesse vivo hoje, provavelmente beberia: Mont des Cats, cerveja comercializada pela Abadia trapista de mesmo nome localizada no norte da França. Apesar de carregar o nome de uma abadia trapista, pelo fato de ser produzida pela Abadia de Scourmont (onde é produzida a Chimay) e não dentro da própria abadia, não pode considerada um produto trapista.
Data comemorativa: 18 de Julho.

São Venceslau (907 – 929)
Venceslau foi Duque da Boêmia e posteriormente à sua morte santificado e declarado rei. A região da Boêmia é notória produtora de lúpulo, e como os lúpulos de lá eram muito valorizados, Venceslau imputou a pena de morte a quem exportasse suas mudas, agradando aos cervejeiros e produtores de lúpulo. É o Santo Padroeiro da Boêmia e protetor dos cervejeiros.
Se estivesse vivo hoje, provavelmente beberia: Pilsner Urquell, cerveja típica da região da Boêmia (Bohemian Pilsner) e produzida com lúpulos da região em abundância.
Data comemorativa: 28 de Setembro.

Santo Arnaldo de Soissons (1040 – 1087)
Frequentemente confundido com Arnulfo de Metz, inclusive sendo os mesmos milagres atribuídos aos dois. É o santo padroeiro dos colhedores de lúpulo na Bélgica, planta abundante na região de Brabant, onde ele foi adotado e por onde posteriormente pregou o evangelho. Um dos milagres atribuídos a ele: certa vez o telhado da cervejaria de uma abadia desmoronou, e Arnoldo rezou a Deus para que Ele multiplicasse o suprimento de cerveja para o consumo dos monges.
Se estivesse vivo hoje, provavelmente beberia: Boon Oude Gueuze Mariage Parfait, uma Gueuze Lambic, estilo típico da região onde viveu e pregou.
Data comemorativa: 14 de Agosto.

Santa Hildegarda de Bingen (1098 – 1179)
Santa Hildegarda era uma freira alemã especialista em ervas, e é considerada (não sem controversas) a primeira a sugerir a inclusão do lúpulo na cerveja. O lúpulo tem propriedades conservadoras, então a cerveja com lúpulo era mais segura para tomar.
Se estivesse viva hoje, provavelmente beberia: Schöfferhofer Hefeweizen, tradicional cervejaria de Frankfurt, cidade próxima a Bingen, onde Hildegarda pregou.
Data comemorativa: 17 de Setembro.
Aqui fica o registro de alguns santos cervejeiros, apesar de que além destes existem muitos outros, como São Patrício – o padroeiro da Irlanda. Além desses todos abençoados, você conhece mais algum que merece acender uma vela, rezar um terço e abrir uma boa cerveja?
Belo post Daniel.
Apenas uma correção. Hildegarda de Bingen é sim Santa. Até mais do que isso, foi elevada ao posto de Doutora da Igreja pelo Papa Bento XVI em 2012
http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/apost_letters/documents/hf_ben-xvi_apl_20121007_ildegarda-bingen_en.html
Grande abraço
valeu Jota!!!
Outra correçao sobre a (santa) Hildegarda de Bingen… Ela nunca sugeriu o uso de lupulo em cerveja!
Para vc ter ideia apontam a data de 1079 para essa primeira mençao historica do lupulo (mas a Sr.a Hilde so veio a nascer em 1098)…
Salve Daniel, já li também que em 700 já tinha receitas com lúpulo. Se não estou enganado no livro Catecismo da Cerveja. Vou tentar achar a fonte.
Olá! Essas imagens dos santos são de onde? Sabe se tem direitos autorais ou se posso utilizá-las em uma apresentação? Abraços!
Olá Fábia, essas ilustrações são nossas. Pode desde que não seja para uso comercial e que cite a fonte. Abs
Olá Daniel, já se passou muito tempo do seu post “Santos relacionados a
cerveja”, com última atualização em 18 julho 2014. Mas só o vi agora, e
achei-o bastante interessante. Sobre a sua pergunta no final “…Além desses
todos abençoados, você conhece mais algum que merece acender uma vela, rezar um
terço e abrir uma boa cerveja?”, não poderia ser incluído nesse rol o Santo
Agostinho (354-430) ? Pelo que sei, êle é considerado oficialmente pela igreja
Católica o padroeiro dos cervejeiros, com data de celebração no dia 28 de
agosto.
Salve Jorjão!!! Santo é que não falta. Bem lembrado do Santo Agostinho. Eu acenderia uma vela para o Santo da Tributação, pra que ele diminuísse os altos impostos da cerveja!!! valeu, obrigado por participar.
Faltou mencionar Santo Agostinho de Hipona, padroeiro dos cervejeiros!
Ótimo post. Sugiro que vc inclua o Saint Gallen! São Gallo. Bem bacana!