Cultura da CervejaQuando comecei a trabalhar com cervejas especiais há 10 anos, sabia que estava por vir uma revolução. Uma revolução de sabores, onde todos estavam prestes a deixar de beber cervejas de sabor massificado e prontos para recepcionar a infinidade de gostos, sensações e aromas que as cervejas especiais tinham para oferecer. Seria o início da Cultura da Cerveja no Brasil!

Havia poucos rótulos no Brasil, e dentre estes quase a maioria era importados. Muito poucos eram de microcervejarias locais como vemos hoje. Os cervejeiros trocavam conhecimentos através de sites e blogs, procuram informações em alguns poucos livros que havia, também em sua maioria importados.

Percebia claramente que o perfil desses apaixonados por cerveja era muito parecido. Pessoas que gostavam de viajar, conhecer culturas diversas e gastronomia. Indiferente de classe social,
eram aventureiros e prontos para novas experiências. Muitos visitaram países cervejeiros como Inglaterra, Alemanha e Bélgica. Era clara a decepção ao retornar ao Brasil. Sim, isso aconteceu comigo muitas vezes. Era difícil chegar aqui e ver apenas grandes marcas que não ofereciam nada em sabor, somente propagandas caras.

Aqueles que tiveram contato com as cervejas especiais, gourmet, artesanais ou cervejas de verdade – como preferirem chamar!-, percebiam que elas ofereciam uma intensa experiência gastronômica e não apenas matavam a sede ou tinham o propósito de atingir grandes volumes de venda. Essas pessoas tornavam-se de imediato disseminadores da Cultura da Cerveja.

Na época que não haviam muitos rótulos, muito menos locais de venda especializados, a saída para muitos era fazer a própria cerveja. E essa sem dúvida foi a melhor maneira para esse início. Isso não aconteceu somente aqui, em outras partes do mundo como Estados Unidos e Canadá também os cervejeiros caseiros tiveram um papel muito importante.

Eles, como muitos, estavam cansados de beber cerveja sem cor, sem aroma, sem gosto e sem graça. Para isso produziam a própria cerveja. E faziam questão de compartilhar as suas cervejas e conhecimentos com os amigos, conhecidos ou qualquer um que estive disposto a saborear mais daquela arte.

Muitos desses cervejeiros de panela se tornaram donos das suas próprias cervejarias. Eles queriam trabalhar com isso, produzir mais e – por que não? –, fazer daquilo um negócio. Afinal de contas, trabalhar com cervejas é o sonho para muitos!

Em paralelo à isso, unir a gastronomia com cerveja começou a ser difundida. A cerveja não precisava ir a mesa somente para matar a sede ou limpar o palato após uma carne gordurosa ou petisco de boteco. A variedade de estilos começou a proporcionar a harmonização. Mesmo com os poucos rótulos que haviam no início já possibilitava infinitas combinações. Podíamos combinar cervejas com as mais diversas tradições culinárias, da entrada à sobremesa, proporcionando harmonizações surpreendentes até mesmo com algo que parecia ser inusitado como queijos e chocolates. Era um universo totalmente novo para ser explorado.

Tenho sorte por ter acompanhado essa revolução desde o início. E essa primeira etapa da arrancada do resgate da Cultura da Cerveja se consolidou a poucos dias atrás no Festival Brasileiro da Cerveja em Blumenau. O Festival contou com mais de 600 rótulos, na grande maioria de microcervejeiras nacionais, tomados em dois imensos pavilhões da Vila Germânica em Blumenau, que chegou com tudo na na sua 6º edição.

As cervejarias curitibanas estavam presentes. Unidas como sempre e fazendo o seu show. Novamente levamos o prêmio da melhor cervejaria do ano com a Bodebrown. Esta acompanhada da Way, Klein, Wensky, Gauden, Morada, DUM, Ogre, F#%*ing Beer, Bier Hoff, entre outras paranaenses – peço desculpas das quais eu não citei, ainda bem que são muitas! – levaram suas últimas novidades para o festival, deixando os cervejeiros presentes alvoroçados para provar e saber o que os revolucionários curitibanos estavam guardando na manga.

Mas não só para puxar o malte para o nosso lado, o Festival estava fantástico. Muitas cervejarias eu nunca tinha visto, salvo a grandiosidade do evento, muitas estavam servindo as suas cervejas na plenitude de sabor e tantas outras com inúmeros lançamentos.

Um brinde à Cultura da Cerveja, um brinde à cerveja de verdade e aos consumidores que estão vibrando com o movimento cervejeiro!

À nossa saúde e vida longa, essa é a apenas a primeira etapa!